O que Freud fez? O que o diferiu?
As afecções de muitas formas já eram conhecidas da psiquiatria, eram conhecidos no mundo médico, eram conhecidas incluso na filosofia, no mundo sócio cultural onde se falava que a histeria era uma questão de “segredos de alcova”, remetendo a temática da sexualidade e outras mais.
O que Freud faz?
Ao pensar e articular conceitualmente o que ele vivenciou nas suas investigações clínicas, formulou uma sistematização conceitual criando um campo meta psicológico, como ele chama, um conjunto teórico que nos permite compreender algo do movimento daquele analisando que sempre é, absolutamente, singular.
Ao mesmo tempo, como toda teoria que se preza, ela visa poder ser empregada em outras situações similares, por exemplo, para pensar a histeria.
Muitos dos conceitos nasceram na matriz clínica da histeria, e o ajudaram a desbravar outras searas psíquicas. Como as fobias, as neuroses obsessivas, o campo das psicoses, as perversões, entre outras.
Ou seja, um conceito ou uma teoria, visa criar algo para além da experiência de onde ela nasceu. Da mesma forma que funciona a capacidade de criação humana: você nunca sabe de onde o pensamento pode nascer, de determinada experiência ou aprendizado.
A grandeza da mente humana é que o aprendizado, vindo de determinado lugar, é capaz de aloca-lo como modelo para pensar outros lugares. Isso é grandioso em nós, humanos, que ainda não conseguiram em máquinas. Se vão conseguir, já não sei, mas acho que não vou estar vivo para ver.
Mas o fato é que essa capacidade do psiquismo humano, de alocar metaforicamente coisas aprendidas e tornar isso um conhecimento capaz de iluminar metaforicamente outros campos, é algo que me deixa aturdido. É maravilhoso! E está muito relacionado, obviamente, com nossa capacidade de pensamento e criação, de pensarmos um novo.
Se a psicanálise pode nos dar alguma coisa, penso que, de mais valioso, é coragem. Porque para pensar precisa coragem. Coragem de lidar com a angústia, coragem de lidar com o novo, e coragem de lidar com o que não lhe foi autorizado a pesar. Não que seja proibido, mas ninguém nunca autorizou a pensar aquilo, você está sozinho, como Freud esteve ao pensar naquela seara.