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Agressividade e Violência

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Parece que subestimamos o poder e os efeitos da agressividade em nossas vidas. Esse fato, sem dúvida, se deve à equalização da agressividade ao que chamamos violência, enquanto a agressividade foi cooptada ao que repudiamos enquanto manifestação violenta. Violência que de muitas formas conscientemente repudiamos. No entanto, parecemos acreditar que a violência é sempre o último recurso possível onde nada mais pode resolver qualquer problema. Violência que concebemos muitas vezes expressão máxima de uma espontaneidade humana, algo que rompesse com uma certa hipocrisia do ainda falar, de um falar que parece nada dizer…

Enquanto sujeitos fomos sendo paulatinamente cooptados em torno da idéia de que o diálogo, enquanto irmão mais fraco, hipócrita, seja menosprezado enquanto algo que possua a suposta espontaneidade da violência, e assim com alguma efetividade de mudança no que tange ao que cotidianamente vivemos e sofremos…

Combatemos conscientemente qualquer coisa que diga respeito á ação da violência em nossa vida, e no entanto em algum lugar parecemos em última instância ainda crer que a violência apareça como último recurso a que podemos lançar mão quando a ”futilidade” do diálogo pareça cumprir seu destino de fracasso… Em outras palavras, a violência aparece como por um lado como algo profundamente repudiado e no mesmo movimento algo ainda, por assim dizer, esperado no que tange à “resolução” última de problemas… Do que estamos falando? Qual a atração que a violência parece exercer sobre nós?

A violência envolve a percepção pela vítima de um desejo de destruição de si pelo outro, algo muito diferente do papel que agressividade cumpre no que tange à apreensão do mundo pelo sujeito pela via da agressividade; o papel da intervenção da agressividade na percepção do sujeito do mundo, no sentido forte da palavra, envolve sempre algo de uma atuação. A agressividade é condição fundamental do estar no mundo, enquanto sujeito perceptivo, enquanto sujeito que no ato mesmo de perceber modifica o mundo com sua presença e atividade…

Parece óbvio, mas somente podemos perceber o mundo na medida em que nele podemos intervir; na medida em que nossa presença seja capaz potencialmente de fazer alguma diferença no que percebemos. Nenhum de nós é capaz de perceber algo em que não seja capaz de intervir, na medida de nossa condição humana de estar no mundo enquanto potencialmente capaz de fazer alguma diferença e a agressividade cumpre um grande papel nesse processo.

A violência envolve a tentativa de anulação do outro, torná-lo inerte de muitas formas inerte, morto. A morte é o grande mote da violência, meta no sentido de tornar o outro inexistente, se possível desde sempre, brigando contra o tempo tentando fazer com o que existe não devesse ter existido nunca… Façamos com que o que possa existir não exista, a violência acredita poder cria algum poder onde somente pode destruir poder. O poder somente nasce onde os homens se encontram e agem em conjunto. Mao Tsé-Tung acreditava que o poder nascia do cano de uma arma. Hannah Arendt nos mostrou que a violência é capaz de destruir o poder, mas não criá-lo…

Talvez possamos assim distinguir algo da violência e da agressividade; agressividade que aparece onde ainda acreditamos poder fazer alguma diferença em um mundo onde se acredita que a violência possa ser a resolução última do que quer que seja.

Voltamos em outro momento ao tema, que sem dúvida merece um maior desdobramento.

Luís Henrique M. Novaes

Luís Henrique M. Novaes

Psicanalista, Bacharelado em Psicologia (USP), com formações complementares e participação no Laboratório de Psicopatologia Fundamental (Universidade Paris 7, Denis Diderot), na Biblioteca Freudiana Brasileira-SP, diretor do Departamento de Psicanálise e Psicossomática do Centro Médico de Ribeirão Preto, presidente da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática (Regional Ribeirão Preto) e análise de formação com Dr.Renato Mezan – SP.

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